“SENEQUE EN MOY”: A IMITAÇÃO DOS ANTIGOS COMO MÉTODO DE ESCRITA NOS ENSAIOS DE MONTAIGNE

Alexandre Soares Carneiro, Thiago Maerki

Resumo


Tornou-se trivial nos estudos sobre os Ensaios de Montaigne a percepção de que o autor teria se espelhado nos antigos – Cícero, Plutarco e Sêneca, por exemplo – na construção de sua prosa, o que é reforçado pela abundância de citações e referências tomadas desses e de outros autores antigos. Partindo do exame de algumas características do sistema pedagógico do Humanismo discutidas por Moss (1989), Boutcher (1996), Davies (1996) e Bloom (2005), por exemplo, e tomando Sêneca principalmente suas Cartas a Lucílio – como influência mais importante na escrita de Montaigne, pretendemos mostrar que esse mosaico de excertos constitui-se, por um lado, método consistente e consciente de produção dos Ensaios e, por outro, estratégia para a imitação desses autores da Antiguidade Clássica. Além disso, investigamos como essa imitação serviu ao autor para a construção de seu próprio eu presente nessa obra.

Palavras-chave: Montaigne. Ensaios. Sêneca. Humanismo. Imitação dos clássicos.

 


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DOI: 10.5935/1679-5520.20180033


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