LITERATURA DE JORNAL: NOS ENTREMEIOS DO DISPOSITIVO DE LEGIBILIDADE

Rick Afonso-Rocha

Resumo


Busco responder às seguintes questões: qual o caráter dos textos publicados nas colunas literárias dos jornais? De fato, são “efetivamente” textos literários? São “subliteraturas”? Ou seriam apenas uma forma de “incentivar” a leitura? Há diferenças entre os textos escritos para serem publicados nessas colunas literárias e os textos originalmente publicados em outro suporte material e selecionados posteriormente para uma dessas colunas? Ao discutir sobre as particularidades desses textos, entendo que o suporte material não pode ser desprezado, uma vez que integra sua dinâmica e flutuante rede de significação. O cheiro do jornal, suas páginas diagramadas em colunas, os títulos com destaques em tamanhos variados, tudo produz sentidos. Busco, assim, evidenciar que há, pelo menos, duas particularidades essenciais nessa confluência discursiva – a saber: cotidianidade e efemeridade –, de modo a problematizar a (auto)referencialidade dos textos literários publicados nos jornais. Num segundo momento, apresento o conceito de dispositivo de legibilidade como a rede que se forma entre o dito, não-dito, visível e não-visível em uma dada formação histórica, estabelecendo um campo de inteligibilidade. Jogo de luz e escuridão que possibilita a concretização de determinados sentidos, ao passo que impossibilita sentidos outros. É por meio desse dispositivo que conseguimos ler, ou melhor, reconhecer, por exemplo, um texto como literário, enquanto a outros essa literariedade é negada.

 


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